quarta-feira, 21 de agosto de 2013


                1, 2, 3, 4 vagões lotados. Dou um passo pra trás, seguindo o ditado, pensando que conseguiria dar outros adiante com maior facilidade. Ledo engano. Saio da estação de metrô República e vou pra Santa Cecília. 1, 2, 3, 4, 5, 6 ... Depois de quase 45 minutos entre a estação Brigadeiro e Santa Cecília, desisti de contar vagões lotados, desisti de controlar o desespero de chegar atrasada, desisti de olhar com revolta para os trens vazios que intercalavam as latas de sardinha. Tirei os fones de ouvido e parei de ouvir mantras.

                O povo é pacífico, acostumado a não reclamar porque, segundo as opiniões comuns, não adianta. Mentira: adianta sim. Fui conversar com a responsável da cabine de controle, saber o que estava acontecendo. Ela me explicou, meio sem graça, sabendo que não tinha muito a explicar, sugeriu novas rotas – que não deram certo – e contou sua história, o percurso insano que faz pra chegar ao trabalho, usando trem e metrô, porque se viesse de ônibus gastaria o dobro do tempo. Tentei pegar um ônibus, mas teria que pegar dois pra chegar ao meu destino. Ganhei um bilhete de metrô pra compensar minha perda de tempo. Senti-me desconfortável, no primeiro momento, por ganhar uma passagem gratuita, mas em seguida recordei que fui reclamar, tomei a atitude de revindicar um direito de todos, porque fui educada assim. Voltei ao metrô e a moça da cabine disse que havia pedido um trem vazio, que já estava chegando, para partir da estação. Adianta sim reclamar.

                Desci à plataforma, chegou o trem o vazio, e pude até me sentar ao lado de duas moças. Comecei a falar alto que todo político, antes de exercer seus cargos, deveriam ser obrigados a usar por um ano os meios de transportes públicos em horários de picos, sozinhos, sem guarda-costas, acotovelando-se e se controlando pra serem educados, pedirem licença, obrigado etc. Queria  ver essa moçada falando que o povo é mal educado... Algumas pessoas deram risada, outros ficaram bem sérios e evitaram olhar pra mim, e as duas moças ao lado engrenaram um papo. Rolou a conversa de sempre, sobre o sistema precário de saúde, educação e transportes públicos, aquilo que deveria ser a obrigação do Estado dar aos trabalhadores, aos contribuintes, aos cidadãos; aquelas boas condições que os políticos se comprometem em dar à população para serem elegidos.
                Percebi a inteligência sofrida nos olhos brilhantes e exaustos das moças, e logo elas perceberam que aquela não era minha realidade e me contaram suas vidas. Vida de gente batalhadora, honesta, pobre, com garra pra modificar a situação, com uma paciência infinitamente maior que a minha para suportar os revezes. Fiquei envergonhada pela minha revolta de um dia. Uma era enfermeira, tentando frequentar faculdade de medicina, mas veio do ensino público, não tem dinheiro pra pagar uma faculdade particular e não tem base pra entrar em faculdade gratuita. Pega, todos os dias, no horário de pico, aquele mesmo trem em que nos encontramos. A outra estava com um livro aberto na mão. Tá bom, nem vou falar qual era o autor, mas estava lendo um livro e se tivesse tido outras oportunidades estaria lendo outros livros. Notei que usava como marcador a carteirinha de seu plano de saúde.

                Lá pelas tantas, a moça do livro contou que há um mês atrás havia perdido seu filhinho. Quando ele nasceu, começou a pagar um convênio médico particular. Tentou colocá-lo como seu dependente, mas o período de carência não permitiu. O menino com dois meses ficou doente, foi a um hospital público, e disseram que não tinha nada. Da última vez que o menino foi ao hospital, não voltou mais. Teve uma parada cardíaca e foi embora dessa terra com apenas três meses. Essa moça bonita, com traços indígenas, negros, brancos, aquela mistura brasileira que combina a pele morena com lindos olhos cor de mel avermelhados pelo cansaço e dor da perda de seu filhinho, disse ter sido aconselhada a entrar com um processo contra o hospital que deixou seu bebê  partir. Disse que não o iria fazer porque não adiantava nada, porque todos os dias isso acontece com várias pessoas, e nada traria seu filho de volta.

                Tive que sair no meio da conversa pra tentar descer no meu destino. Meu destino... tão diferente dessas moças, meu Deus, como sou grata pela minha vida. Meu Deus, porque é só Deus que pode ajudar, só Deus pode colocar na cabeça daqueles que podem mudar essa situação LUZ e compaixão pelo povo que governa.  Agora entendo o que me disse a menina Senegalesa, uma linda garota com a face marcada por uma cicatriz, que perdeu sua família na guerra e que estava exilada na Itália. Suas palavras, agora, ressoam forte: confio  apenas em Deus, porque sei do que os homens são capazes. Meu Deus, que sua centelha desabroche cada vez mais nos corações, que o poder do livre arbítrio conduza os seres humanos à liberdade.

                Fiz o que sou capaz de fazer. Enchi meu coração de LUZ, dei um abraço cheio de amor na mãe, cumprimentei a outra garota e disse que sim, ela deveria processar aquele hospital. Guardei o seu nome. Kátia Oliveira. Quantas serão as Kátias Oliveiras? 

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Raquel


                A Raquel sempre foi linda, a representante da belo feminino da família. Mas que surpresa, ao olhar o caixão, e ver sim uma figura bonita, mas faltava o motivo de tanta lindeza: sua alma. Festeira como ela, jamais ficaria em seu próprio velório! Seu coro da terceira idade a entendeu perfeitamente e na coroa de flores escreveram: “Raquel, que você continue levando sua alegria”, ou algo assim.
                Quando voltei pra casa, chorei, por egoísmo, mas logo fui invadida por um amor tão forte e pelas lembranças das suas piadas, que o choro se transformou em riso pra dar lugar a gargalhadas. Como podia ser diferente? Raquel, leonina, a rainha da alegria, da sapequice, só aprontava! Ela me ensinou a sair do corpo, me emprestava suas roupas e me maquiava, me dizia como era o mundo, pra ficar atenta, ela sabia se mover na terra, eu não. Acho que nossas purezas se encontravam.
                A primeira vez que tive um encontro foi por meio dela. Antes de sairmos, ela disse pra mentir a idade, pois o moço tinha 24 anos. Bom, no fatídico momento, disse ter treze anos ao invés dos doze... Ficou aquele climaço, e ela me levou ao banheiro, morrendo de rir  da minha ingenuidade, porque eu continuava a falar: mas aumentei minha idade!
                E as histórias continuavam. Os chopes no boteco perto das tradicionais aulas de piano da Fundaçao Magda Tagliaferro,  regados pelas trocas de conhecimentos afetivos, ou melhor, meu aprendizado de coisas de mulher, do universo feminino que tinha tanta dificuldade em entender; uma porção de batatas fritas enquanto falávamos de músicas, dos livros do Castanheda, e também inventávamos apelidos pra todos que não estavam presentes... Uma vez, quando estava me separando do meu primeiro marido, sentindo-me dividida, ela lançou a pergunta: “Numa escala de 0 a 100, quanto você o ama?”. Parei pra pensar, e disse algo entre 75 e 85. E ela, no meio da gargalhada,  disse: “Tonta, desde quando amor tem medida? Ou se ama ou não se ama!”. Era seu jeito de ajudar, de aconselhar com astúcia, brincando, deixando tudo mais claro e fácil.
                Encontrei minha prima em outros planos duas vezes. Na primeira mostrou um piano de camurça castanho. Como a conheço, achei que era alguma peça que estava me pregando. Mas ela me dizia: “Tem sim, Betinha, aqui tem piano sim e é de camurça dobrável!”. Na segunda vez, me disse que foi embora por causa da dengue. Depois, nunca mais a encontrei lá fora, mas às vezes sinto sua presença, como agora, que vem um amor, uma alegria indizível e a pele fica arrepiada...
                Raquelita tá lá, tacando purpurina nas asas dos anjos, fazendo os seres luminosos substituírem os cantos gregorianos pelos buarquianos, caetaneanos, djavaneanos; botando o coro celestial pra requebrar em seu arranjo de Querubim... Tá lá acompanhando a moçada no piano de camurça castanho claro, e quando sair, vai dobrá-lo e levá-lo debaixo de suas asas. Cheias de purpurina, é claro.

sábado, 15 de junho de 2013

Esperança de uma aula pra crianças em 2.574





“Em 2011 aconteceram muitas manifestações públicas na Terra devido ao péssimo estado do planeta.”

“O que são manifestações?”

“Manifestações eram uma das formas que as pessoas tinham, reunidas em grupos nas ruas, para dizer que estavam descontentes com a vida que levavam.”

“Mas... existia um governo?”

“Existia sim, mas era diferente do nosso. Eram muitos governos, que valorizavam mais os pedaços de papel e círculos pequenos de metal do que as formas de vida do planeta. Além dos governos, muita gente também pensava assim; mas, felizmente, algumas daquelas que estavam preparando o mundo de hoje, também se manifestavam. Mas vamos continuar a história! Essas manifestações, no início, eram violentas porque uma parte da população possuía emoções esquisitas, que apagavam o amor que tinham dentro do coração.”

“Nossa, mas como eles conseguiam viver assim?”

“Pois é, eles tentavam viver, mas era um desastre! A falta de consciência de que todos nós estamos interligados deixava os relacionamentos tensos e difíceis. Existia muito sofrimento. Grande parte da humanidade passava fome, dormia ao relento, trabalhava horas a fio em serviços duros que estragava sua saúde; existiam guerras, agressões, ninguém se entendia. Foram diversos grupos que mudaram a vida das pessoas e, dentre esses, tinham aqueles que saíam nas ruas para manifestar suas opiniões, apesar de ainda serem muito desorganizados no início. Por exemplo, na manifestação em São Paulo, em junho de 2011, houve confusão entre a polícia e os manifestantes.”

“Polícia?”

“Polícia era uma espécie de trabalh que a antiga humanidade inventou para organizar e proteger a sociedade; enfim, pra acabar com a chamada violência, aquela forma de emoção, pensamento e ação estranha ao amor. Olhem aqui um holograma de um policial.”

“Que roupa engraçada! Pra que serve aquele bastão?”

“Era um instrumento pra golpear quem descumprisse as regras.”

“Mas isso é, como diziam os antigos, violento! Pensei que eles quisessem acabar com a violência!”

“Como já expliquei, a consciência naquela fase da humanidade era pequena. A maior parte das pessoas acreditava  poder acabar com a violência usando violência, e apesar dos fatos mostrarem que ela só aumentava, continuavam a agir dessa maneira. Vocês se lembram de Gandhi?”

“Sim! Mas ele viveu muitos anos antes, né?”

“É, isso mesmo, ele viveu entre o séc. XIX e XX, mas ainda no séc. XXI eram raras as pessoas que conseguiam seguir seu exemplo. Ele era parecido conosco. O antigo ser humano tinha dificuldade em entender suas ações. Pensava que era passivo, enquanto Gandhi agia pacificamente, como nós sabemos. Ele teve uma vida difícil, lembram? Os policiais bateram nele, e até foi isolado numa espécie de habitação que se chamava prisão.”

“O que é mesmo uma prisão?”

“É um lugar usado na antiguidade para colocar pessoas que fizessem o mal, mas nem sempre os maus estavam lá, e muitas vezes estavam pessoas que faziam o bem. (Espero que lembrem o que quer dizer bem e mal! Lembram? É aquela maneira que divide o UNO em duas partes... ) O fato de uma pessoa ou outra ir para cadeia dependia da consciência da maioria que dava seu poder pessoal a poucas pessoas, e é difícil explicar isso também, porque as pessoas se sentiam incompletas e diferentes. Gandhi vivia como nós, e sabia que somos completos, todos iguais, e que representamos expressões diversas do TODO.”

“Lembro que o corpo de Gandhi foi tirado por uma pessoa.”

“Sim. Seu corpo foi extinto com uma arma de fogo, aquele objeto que vocês viram no arquivo. Era uma sociedade violenta. Voltando ao nosso assunto, no começo as manifestações tentavam ser pacíficas mas acabavam sendo violentas porque se usavam essas armas, além de um gás que não deixava as pessoas respirarem, como por exemplo naquela manifestação do séc. XXI, onde muitas pessoas foram feridas pela polícia.”

“Como assim? A polícia existia pra proteger a sociedade!”

“A polícia foi criada pra isso, mas lembrem-se: a antiga humanidade tinha uma consciência limitada, suas emoções eram perturbadas e, portanto, o AMOR estava escondido por essas condições.”

“E o que aconteceu com o trabalho de policial quando a violência acabou?”

“Ao longo da história, as coisas foram mudando, tanto para os policiais como para outros trabalhadores, até conseguirem usar seu tempo de vida nos corpos terrestres em atividades benéficas pra evolução do planeta.”

“Como foi essa mudança?”

“Ah, foi bem devagar, e bem difícil, mas quando a maior parte da humanidade finalmente conseguiu transformar suas emoções, o AMOR se liberou e se espalhou rapidamente, com grande força e poder, estabelecendo harmonia e felicidade. A sociedade foi se organizando naturalmente na maneira como vivemos hoje. As antigas profissões criadas para proteger ou reprimir os cidadãos, simplesmente se extinguiram quando acabou a violência no coração das pessoas. Diante da força de uma organização social bem estruturada, benéfica a todos, pacífica, e pautada no AMOR, os seres defeituosos que viviam na violência se sentiam desconfortáveis. Alguns conseguiram se transformar, outros foram perdendo o poder da vida e, simplesmente, desaparecendo. De acordo com a história, foram levados pra outros planetas onde estão aprendendo novas maneiras de se perceber.”

“Novas maneiras de se perceber? Existe mais de uma?”

“Hehehe, é estranho, mas existem várias maneiras de se perceber para quem está distante da LUZ.”



domingo, 19 de maio de 2013

Uma possível dimensão musical


            A vizinha acabou de tocar Gló ria, gló ria, alelu – u – ia, parte do seu vasto repertório de canções em compasso quaternário ou binário, jamais em ternário. O som do piano é martelado num tempo rígido, quadrado, sem oscilações ou respiros, numa execução polticamente correta acentuada pela ausência de dinâmica e da mão esquerda que dispõe apenas as funções principais usando sempre o mesmo padrão de arranjo. Até venho percebendo melhorias quanto à fluidez e ampliação do repertório, mas nada acontece no quesito musicalidade nesses dois ou três anos que ouço a senhorinha ensaiar pro culto dominical. Mas, apesar dos ouvidos ainda rejeitarem a estética insossa, a irritação primeira deu lugar à compaixão ao conhecer a história dessa mulher pequenina e sorridente que converso no elevador: seu marido é inválido, mora em sua casa, não se levanta da cama há vários anos, e ela é sua principal cuidadora.
            Admiro pessoas que criam com suas próprias mãos espaços de felicidade.  

Quadro de Carlos Oswald


sábado, 27 de abril de 2013

Uma moça qualquer


            Conheço uma moça que acabou de terminar a faculdade, trabalha em sua profissão e depois do expediente ajuda a mãe no negócio da família. Mora longe dos locais de seus sustentos, então, sai às 5 da manhã e chega em casa às 20, 21, 22, seis vezes por semana. Ainda possui aquele tipo de beleza perecível da juventude com poucos sinais do tempo, fala pouco, muito atenta, observadora, cuidadosa; não é alegre nem triste, não é simpática nem antipática; desconfio que seja inteligente e que não saiba disso, parece que sua condição de vida não permite tal consciência, nem sonhos, muito menos alçar voos...

                Outro dia perguntei o que ela fazia para se divertir. Ela levantou a cabeça com os olhos arregalados e, enquanto desviava seu olhar ao chão, me respondeu: “Nada.” Reformulei a pergunta, fiz várias tentativas, e as respostas eram  acenos negativos adocicados por um semi-sorriso, até que perguntei o que ela mais gostava de fazer. “Dormir”, me respondeu. 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Tá lá o corpo estendido no chão


Tá lá o corpo estendido no chão...

                Entre a banca de jornal e uma pensão para moças, estava o corpo de uma garota estendido no chão. Perguntei se alguém a conhecia na banca, no bar ao lado. Ninguém sabia nada dela. Perguntei se tinham chamado ajuda, pois a moça estava quase sendo pisoteada pelos passantes devido o espaço que ocupava na calçada. Ninguém tinha chamado ajuda e um cara ainda disse, com um sorriso irônico, que ela estava curtindo a ressaca.

                A jovem estava machucada, com marcas de picadas pelo corpo todo, um olho roxo e com os pontos ainda evidentes de um ferimento no nariz. Liguei pro SAMU, caiu a ligação, aí liguei pra PM e enviaram uma viatura. Durante os vinte minutos que aguardei os policiais, a moça se revirava, parecia sentir dores, e não sei quantas pessoas passaram por ela sem olhar, só desviando da matéria incômoda em seu trajeto; outras tantas a olhavam com piedade, mais ou menos 3 segundos de piedade, e iam embora; duas ou três se preocuparam e falaram que era melhor ligar pra alguém, mas não ligaram. Como fiquei lá de plantão, para que pelo menos ela não fosse pisoteada, uma pessoa me perguntou se a conhecia, outra perguntou se eu era assistente social, outra se era oficial de justiça. O dono do bar e sua mulher disseram pra mim que não adiantava nada chamar alguém pra ajudar, eles viam muitas pessoas assim, e não tinha como ajudar. Ouvi quieta, com atenção. E continuei a esperar os PMs.

                Quando os policiais chegaram, um deles desceu, agradeceu minha chamada e foi conversar com a moça que, ao ouvir a voz do cara, rapidamente se sentou. Era um policial do bem, daqueles que a gente fica feliz por existir. A conversa entre nós três foi rápida: ela estava com ressaca, com certeza de bebida e provavelmente de drogas, o policial disse que ambulância não atende quem está embriagado e que ele não podia fazer nada porque a menina dizia que tinha casa mas queria ficar na rua. Na hora que ele pediu o nome dela, ela olhou pra mim e disse: “Viu o que você fez?”  Entendi o que fiz. Entendi mesmo. Ela ainda me perguntou: “Você se preocupou comigo?” E seus olhos brilharam. Logo em seguida pediu que lhe comprasse comida.

                O policial foi embora, com o nome fake da garota e meu nome de verdade, dizendo que tinha tido boa intenção, mas essas coisas são complicadas, não tem como resolver, não tem pra onde levar a garota, não tem como ajudar e provavelmente amanhã ela estará nas mesmas condições. Sim, essas coisas são complicadas, eu não consegui resolver, fiz o que achava que tinha que fazer, e vou continuar fazendo até encontrar – e poder fazer -  coisa melhor. Paguei uma coxinha pra menina, que podia muito bem ser minha irmã, minha amiga, minha sobrinha, e deixei o troco pra ela. Quando estava saindo do bar, a mulher que a servia me disse: “Tá vendo? Ela quer uma pinga.”  

                Ah, menina, desculpe se não posso realmente te ajudar, porque te ajudar seria te trazer pra casa, te dar abrigo, conversar contigo, te levar pra um tratamento de saúde, te apoiar no seu dia-a-dia, e ter consciência que mesmo se pudesse fazer isso por você, seria apenas uma tentativa, não uma certeza de que sua vida seria melhor. Só você pode deixar sua vida melhor.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Não basta apenas plantar...




            Tenho duas violetas que ficam na janela do banheiro: uma é extrovertida, parece que está sempre rindo, suas folhas transbordam o vaso e sempre dá flores; a outra é tímida, recatada, acabrunhada, acho que é um pouco deprimida, raramente dá flores e mantém suas folhas arredondadas em direção à terra, formando uma espécie de capacete de veludo em camadas. Dou exatamente a mesma atenção às duas, as rego e dou carinho, mas elas sempre foram diferentes, cada qual com suas particularidades.

            Porém, numa semana atribulada e enlouquecida, eis que me esqueci por alguns dias delas, e elas reagiram mal. A extrovertida mostrava duas flores que murcharam antes de desabrochar, e a tímida, num ímpeto suicida, queria pular pra fora do vaso. Fiquei horrorizada! Peguei os dois vazinhos, limpei as folhas, mexi na terra, replantei a tímida, dei beijinhos nas duas, pedi desculpas, falei que as amava e que isso não iria mais acontecer. Em dois dias notei que elas tinham se recuperado.

            É tão óbvio que  não basta apenas plantar, que é preciso dar atenção diariamente, oferecer os alimentos certos, dar carinho, amor. É tão óbvio ser essa a regra para todos e tudo na vida.

            Que o TODO ilumine minha mente trazendo a constância da ATENÇÃO e CUIDADO.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Sugestões para criar músicas


           Minha intenção é compartilhar  pensamentos simples que nasceram de vivências e convivências pessoais; palavras que expressam ideias que podem trazer novas reflexões e, quem sabe, ajudar compositores iniciantes  em suas buscas.   

                Coloco algumas sugestões gerais e outras para dois casos específicos ( pessoas que tem ideias musicais, mas não possuem ferramentas para realiza-las; e as que possuem algumas ferramentas, mas lhe faltam ideias ), mas que podem ser úteis a todos.    No final deixo algumas dicas para o dia a dia e termino com um texto de minha autoria sobre o ato de compor.

Eu quero compor!

                O primeiro passo é muito simples, pois basta estar disposto e ter vontade, o que se resume numa frase: "Eu quero compor."  Cada um vai encontrar um motivo pessoal que justifique a vontade, os porquês de suas composições, qual seu lugar e contribuição à sociedade como compositor, qual é o estilo de música mais adequado pra trabalhar, quais são seus caminhos musicais, e sei lá mais o que...  É legal pensar nisso tudo, com cuidado pra não entrar em devaneios e não bloquear os processos criativos.

                A partir do momento que você colocou na cabeça/coração que quer compor, detecte o que falta para concretizar sua vontade e vai à luta!

Para quem tem ideias, mas não tem as ferramentas

                As ideias musicais te povoam, mas você não sabe o que fazer com elas? Comece gravando, com sua voz, aquilo que tá dentro.  Assisti uma entrevista do cantor e compositor inglês Seal onde ele conta que em suas primeiras composições gravava com sua voz as linhas (melodias e ritmos) de todos os instrumentos... é um caminho! Mas se você não conseguir expressar o que ouve internamente nem com a sua voz, procure ajuda - tenha aulas! - com um professor de canto e/ou aprenda um instrumento. Dependendo da complexidade da sua música, aconselho também estudar as teorias musicais, aprender a escrever música e a usar os programas de gravação e criação musical para computador caseiro. 

                Ter inspirações, ideias, insights, sentir movimentos musicais é maravilhoso, mas não saber o que fazer com tudo isso é angustiante. O único caminho que conheço pra construir um receptáculo capaz de decodificar inspirações é o estudo. A máxima de Einstein cabe bem nos fazeres da composição musical: 10% de inspiração e 90% de transpiração.

Para quem tem ferramentas, mas não tem as ideias

                Esse é o caso de muitos estudantes de música submetidos a um aprendizado tradicional onde não foram incentivados às práticas criativas; daqueles que entendem intelectualmente as teorias musicais, sabem executar um instrumento mas encontram dificuldades em inventar música.  Aqui, a atividade que precisa ser desenvolvida é a improvisação, que pode ser feita sozinho ou em grupo.

                Se você conseguir improvisar sozinho, sugiro o mesmo que meu professor Mário Ficarelli indicou quando estava na graduação: procure improvisar cada dia no estilo de um compositor diferente. Uma maneira gostosa de fazer isso é escutar algumas músicas do compositor que você escolheu e depois ir pro seu instrumento tentar imitar o que ficou na memória, antes do improviso. Depois disso, pegue um tema qualquer e o cubra com os padrões que você identificou no compositor. Algumas vezes esse processo sai quase sem pensar, outras vezes você organiza os padrões racionalmente; não importa como fizer, só não escreva no papel! Esse é um exercício prático, pra ser feito no seu instrumento musical, seja ele externo ou seu próprio corpo. Até hoje uso esse exercício, principalmente quando me pedem para compor num determinado estilo.

                Outro tipo de improviso que pode ser feito sozinho é pegar a melodia de uma canção tradicional e "vesti-la" em maneiras diferentes, mudando a tonalidade, a harmonia, o ritmo, os timbres, até a própria melodia através de novos acentos, supressão de notas, espelhos, pausas etc. Tente, porém, deixar algo no improviso que remete à melodia original, e pra saber se isso realmente foi feito, mostre pra alguém e pergunte com que a música se parece.

                Se você não consegue fazer essas práticas sozinho, procure urgentemente grupos de improviso e profissionais que sabem como despertar os processos criativos. 
                               
Feijão com arroz - dicas para dia a dia

                Disciplina

                Estabeleça horários para compor. Cada um sabe o quanto separar do seu dia ou semana pra essa atividade, e o próprio desenvolvimento das composições vão mostrar qual é a sua necessidade. Procure cumprir os horários pré-estabelecidos, mesmo se você não tiver nenhuma ideia pra desenvolver. Nesses casos, você pode improvisar, ler sobre o assunto, escutar músicas e os sons ambientes, tocar músicas de outros compositores, tocar suas próprias composições... O importante é afirmar que esse espaço temporal é dedicado à composição.

                Presença, entrega, concentração

                O horário estabelecido pra composição precisa das qualidades acima. Se você tiver outras preocupações na cabeça, vai resolvê-las, se for possível, ou faça uma meditação, ou vá caminhar pra espairecer, ou faça respirações profundas, atividades físicas, yoga, sei lá, faz o que for necessário pra trazer seus pensamentos e sentimentos pro ato de compor ou pras atividades relacionadas à composição.

                Banco de ideias musicais

                Apareceu uma ideia, grave! Qualquer celular mequetrefe dá conta do recado. Quantas vezes perdi ideias tentando escrevê-las no ônibus e cantarolando até chegar em casa... Hoje em dia, não tem mais desculpa, dá pra gravar em qualquer lugar que os sons apareçam! Não tenha vergonha de cantar na rua, e se as ideias surgirem no meio de outra atividade, dá sempre pra pedir licença e ir até o banheiro... Grave todas as ideias, mesmo as que parecem tolas, e crie uma pasta em seu computador para guardá-las. Uma vez por mês vai lá ouvi-las, ou as use quando entrar nos períodos de estio criativo.  Faça a mesma coisa com os improvisos.

                Atenção ao senso crítico

                Ter senso crítico é ótimo, mas o use com critério. Se você achar que tudo o que inventa é horrível , o que até pode ser verdade, vai acabar com suas possibilidades criativas. Aceite o que vier, com carinho. Nem todas as ideias viram música, nem todas as músicas você vai querer mostrar, mas podem servir como exercícios preparatórios para futuras composições. Deixe os sons se aproximarem, deixe-os germinarem, crescerem. Às vezes o que não é legal pra gente pode ser pros outros, e vice-versa. Você escolhe o que, como e pra quem vai mostrar; você escolhe o que fazer com suas ideias musicais, improvisos, composições.  A gente aprende com a prática, com os erros. Faça suas escolhas com generosidade. Se de 100 composições uma for do jeito que você gosta, já valeu a trabalheira, né?  

                Fazendo o pãozinho

                Assim como o marceneiro trabalha a madeira, o compositor trabalha os sons: pra tornar a ideia audível é necessário saber da matéria sonora, das ferramentas e das maneiras que a transformam... Portanto,  estude, desenvolva suas habilidades musicais, leia sobre música, informe-se.

*             *             *             *             *             *             *             *             *            

“ Compor é muito mais do que transformar a matéria sonora,
é impregná-la de sentimentos, emoções, intenções submersas;
compor é jogar luz nos espaços escuros do Ser,
é organizar tudo isso em padrões mutáveis,
é tornar audível o que não cabe em palavras,
é sossegar tempestades.
Compor é um movimento da Alma. ”

Elisabet Just, 17 fevereiro 2013

domingo, 20 de janeiro de 2013

Segunda etapa: sair do labirinto


                “A depressão é algo minotaurico, um tentar sair do labirinto”, falou mais ou menos assim uma querida amiga, agora há pouco.

                Sim, a depressão tem um quê de minotaurico... é como se ela fosse o próprio Minotauro, que se alimenta de virgens e rapazes –  que pra mim simbolizam as belezas da vida - até que chega Teseu que, presenteado por sua morosa com um novelo de lã e uma espada mágica, vence a parada. Teseu tem tudo ok pra derrotar o monstro, é forte, corajoso, inteligente, determinado e subordina-se à vontade dos deuses aceitando a sugestão  do oráculo de Delfis, que prediz sua vitória com a ajuda do amor, ao aceitar a proposta de casamento com Ariana e, com isso, obtém seus presentes. Tanto na primeira quanto na segunda etapa o herói não seria capaz de vencer apenas com seus atributos pessoais: mata o bichão com a espada e sai do labirinto porque marcou o caminho com o fio do novelo, que além de estar impregnado de amor, não tem nós.

                Acredito estar passando pela segunda etapa. Por ‘coincidência’ dia desses fui à casa da minha irmã e passei horas tirando nós das correntinhas da sobrinha, num movimento simbólico. Deitada em sua cama enquanto ela arrumava as roupas daquele quarto gostoso e cheirosinho, num ambiente carinhoso, familiar, com o cachorrinho subindo na barriga e de vez em quando lambendo minha cara, denodei o primeiro colar sem esperar resultados, concentrada na tarefa do momento, com paciência, tranquilidade, carinho. E fui pegando outros, sei lá, uns três ou quatro ou cinco foram concertados, prontos  pra uso. No meio do processo comuniquei: “Assim como tiro os nós das correntes, vou desatar os nós da minha vida!”.

                Percebi na atividade manual as qualidades essenciais pra sair do labirinto, pra desenrolar e tirar os nós dos fios do novelo que me conduz à saída: paciência, desapego, tranquilidade, carinho, presença, concentração, confiança, cuidado, atenção.  Não me concentrei no sucesso ou insucesso da empreitada, me concentrei no que estava fazendo, no exato momento, sem expectativas futuras. Estava confiante sim, confiante em estar fazendo o melhor que podia mas sem tensão, sem querer me superar, sem a necessidade da perfeição ou do acerto. Confiante na tentativa, sem atribuir valores às ações.

                Nos dias seguintes continuei com outros movimentos simbólicos mais comuns, como jogar o velho pra dar espaço ao novo, limpar cantinhos escondidos, mudar as coisas de lugar etc, aquele bando de coisa que sabemos que é legal fazer pra deixar as energias fluírem. No entanto, foi necessária uma atividade nova, imprevista – denodar colares – pra liberar outras ações que já conhecia.

                Nesse momento, tanto o mito quanto a atividade na casa da minha irmã me ensinam que novelos – ou bijuterias - desatados estão ligados às qualidades inerentes aos processos amorosos. Agora, é acordar e cultivar essas porções de Ariana, talvez adormentadas pela experiência similar a fase posterior do seu lamento na ilha de Naxos...
        *             *             *             *             *             *             *            
                Agradeço aos amigos e amigas de almas presentes  (incluindo aqui minha família), pacientes e amorosos nessa fase difícil. Agradeço especialmente à Debs, querida amiga recíproca, que incitou carinhosamente essas reflexões.

Gratidão  ao TODO que me traz tantas boas oportunidades!     


sábado, 19 de janeiro de 2013

O sapo e o vagalume


Entre o gramado do campo
Modesto, em paz, se escondia
Pequeno pirilampo
que, sem o saber, luzia.

Feio sapo, repelente,
Sai do córrego lodoso,
Cospe a baba, de repente,
Sobre o inseto luminoso.

Pergunta-lhe o vagalume:
- "Porque me vens maltratar?"
E o sapo com azedume
- "Porque estás sempre a brilhar!"


Poesia do blog http://somentess.blogspot.com.br/2010/07/o-sapo-e-o-vagalume.html

                Situações parecidas na essência se repetem... Quando voltei pro Brasil,  comecei a procurar trabalho porque estava na lona total e precisava realmente de qualquer coisa.  Fiz uma entrevista numa escola de música dessas de bairro e o diretor, além de duvidar em maneira sarcástica do meu currículo, não me deu o trabalho e ainda saiu com essa: “Só sei falar português”.  Fiquei parada olhando o cara sem entender nada, e depois dessa frase ele se despediu mais ou menos educado.  Não entendi na hora. O que o fato dele saber ou não mais línguas tinha a ver com a relação de trabalho que tentava estabelecer?
                Fui gravar algumas músicas num estúdio de bairro nesses dias. Paguei barato, aquele barato que sai caro. Essa foi terceira e última vez que trabalho com essa pessoa. Na primeira, as pessoas que encomendaram músicas eruditas me levaram lá, e na gravação ouvi que saíram rumores da cadeira do piano, mas tirando isso, a gravação estava boa. Na segunda, falei do rumor da cadeira, trocamos o assento e gravei três músicas minhas no piano que ficaram muito boas. Só que desta vez, o trabalho foi péssimo.  O cara foi bem displicente ou é um técnico de som que não ouve o que ouço, ou... Percebi que estava vazando sons da cabine dele, como movimentos dos pés, da sua cadeira, mordida na maça que comia enquanto trabalhava... Falei. Ele disse que não estava ouvindo. Continuamos a gravação e enquanto tocava, continuava a ouvir os sons da sala técnica. Terminei a música e falei de novo. Ele disse que não era possível. Aí percebi que tinha um cabo que impedia que a porta se fechasse totalmente. E nessas já tinha gravado duas músicas... Bom, aí ele admitiu que podia ser que isso que estava acontecendo. Trocou o cabo, fechou a porta, mas aí a relação humana ficou péssima.  Daí pra frente foi bem triste. O resultado é que as músicas estão imprestáveis e em duas delas dá pra ouvir o metrônomo.
                O cara disse que era desafinada, que cantava muito baixinho, sem emoção... E nisso já tinham passado três das cinco horas de estúdio. Não quis reagir pra não aumentar a tensão. Podia ter perguntado a ele se já tinha ouvido falar de João Gilberto; podia ter perguntado pra ele o que ele entendia por afinação; podia ter perguntado a ele com o que ele se emocionava, mas não fiz. Ouvi o que ele dizia, procurei tratá-lo bem, mesmo porque me pediu desculpas por ter deixado o microfone da sala de som aberto (um dos possíveis motivos pro som da mesma ter vazado na gravação) e por ter deixado na gravação o barulho do metrônomo, que depois de colocarmos o volume no máximo e dele ter escutado em silêncio, finalmente percebeu. Também voltou atrás no quesito afinação depois de ouvir a melodia tocada no piano. Queria “corrigir”, porque as notas não pertenciam ao acorde e lhe soavam estranhas. Entendi que entre nós havia um abismo e que nossas percepções eram muito diferentes. Paciência. Paguei o cara, e fui embora bem triste.
                O que existe em comum nessas duas experiências é que algo em mim os incomodou. É a velha história do sapo que queria ser vagalume, não tem jeito, é um troço que preciso lidar. Ou então, procurar minha turma. 

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Enterrando mortos, alimentando vidas



            Em 2012 entendi o que significa enterrar os próprios mortos. Vivi, mais uma vez, a experiência da perda expressada no desespero, na dor, na decepção, na tristeza. Vivi o luto, vivi suas cinco famosas fases: a negação e o isolamento, a raiva, a barganha, a depressão e, finalmente, a aceitação. Agora cá estou, outra vez, a recomeçar.
            Sinto no ar o perfume suave da esperança e o toque gentil dos sonhos renovados. As músicas e as letras voltaram a me povoar; meu corpo escapa dançando dos fios de lã cinza: é que as gotas dourados do Amor estão preenchendo lentamente os espaços embrutecidos do coração.
            Agora entendo que, assim como enterrei mortos, também já alimentei vidas; tinha me esquecido disso naquela fase da noite escura. Uma vez aceita a condição, os mortos se transformam em estercos para as novas semeaduras.
            Aproveitei para enterrar partes da personalidade que obstruíam o acesso às maravilhas, e quero dizer com isso que aceito a generosidade, o respeito, o bem-querer, a gentileza, o otimismo, o sucesso, a excelência, a delicadeza, a saúde, o bem-estar, a felicidade, a prosperidade, a harmonia, a leveza, a doçura, o amor. Sepultei aquele bonismo infantil e orgulhoso que me fazia aceitar relacionamentos desprovidos de amor. Já foi tarde!
            Parto agora pra uma nova viagem e com reverência às essências divinas,  peço ao poderoso Ganesha que desobstrua com sua magnífica presença os caminhos; pego emprestado a espada dourada de São Miguel Arcanjo para cortar amorosamente as relações deletérias; de São Jorge guerreiro, que tem em seu rosto o louvor a Cristo, empresto seus escudos poderosos pra me defender das almas tristes que destroem sonhos; que Iansã me dê forças se a luta for necessária; que minha querida mãe Oxum doure meus passos com sua essência e que seja em benefício de todos; que minha doce Kwan Yin se faça presente com seu amor em forma de compaixão.
            Viajo sem mortos, parto com o que me pertence, empreendo a nova etapa dessa personalidade imperfeita sabendo que não estou só. Agradeço a jornada, e sonho em poder levar na bagagem só amor...