terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Sugestões para criar músicas


           Minha intenção é compartilhar  pensamentos simples que nasceram de vivências e convivências pessoais; palavras que expressam ideias que podem trazer novas reflexões e, quem sabe, ajudar compositores iniciantes  em suas buscas.   

                Coloco algumas sugestões gerais e outras para dois casos específicos ( pessoas que tem ideias musicais, mas não possuem ferramentas para realiza-las; e as que possuem algumas ferramentas, mas lhe faltam ideias ), mas que podem ser úteis a todos.    No final deixo algumas dicas para o dia a dia e termino com um texto de minha autoria sobre o ato de compor.

Eu quero compor!

                O primeiro passo é muito simples, pois basta estar disposto e ter vontade, o que se resume numa frase: "Eu quero compor."  Cada um vai encontrar um motivo pessoal que justifique a vontade, os porquês de suas composições, qual seu lugar e contribuição à sociedade como compositor, qual é o estilo de música mais adequado pra trabalhar, quais são seus caminhos musicais, e sei lá mais o que...  É legal pensar nisso tudo, com cuidado pra não entrar em devaneios e não bloquear os processos criativos.

                A partir do momento que você colocou na cabeça/coração que quer compor, detecte o que falta para concretizar sua vontade e vai à luta!

Para quem tem ideias, mas não tem as ferramentas

                As ideias musicais te povoam, mas você não sabe o que fazer com elas? Comece gravando, com sua voz, aquilo que tá dentro.  Assisti uma entrevista do cantor e compositor inglês Seal onde ele conta que em suas primeiras composições gravava com sua voz as linhas (melodias e ritmos) de todos os instrumentos... é um caminho! Mas se você não conseguir expressar o que ouve internamente nem com a sua voz, procure ajuda - tenha aulas! - com um professor de canto e/ou aprenda um instrumento. Dependendo da complexidade da sua música, aconselho também estudar as teorias musicais, aprender a escrever música e a usar os programas de gravação e criação musical para computador caseiro. 

                Ter inspirações, ideias, insights, sentir movimentos musicais é maravilhoso, mas não saber o que fazer com tudo isso é angustiante. O único caminho que conheço pra construir um receptáculo capaz de decodificar inspirações é o estudo. A máxima de Einstein cabe bem nos fazeres da composição musical: 10% de inspiração e 90% de transpiração.

Para quem tem ferramentas, mas não tem as ideias

                Esse é o caso de muitos estudantes de música submetidos a um aprendizado tradicional onde não foram incentivados às práticas criativas; daqueles que entendem intelectualmente as teorias musicais, sabem executar um instrumento mas encontram dificuldades em inventar música.  Aqui, a atividade que precisa ser desenvolvida é a improvisação, que pode ser feita sozinho ou em grupo.

                Se você conseguir improvisar sozinho, sugiro o mesmo que meu professor Mário Ficarelli indicou quando estava na graduação: procure improvisar cada dia no estilo de um compositor diferente. Uma maneira gostosa de fazer isso é escutar algumas músicas do compositor que você escolheu e depois ir pro seu instrumento tentar imitar o que ficou na memória, antes do improviso. Depois disso, pegue um tema qualquer e o cubra com os padrões que você identificou no compositor. Algumas vezes esse processo sai quase sem pensar, outras vezes você organiza os padrões racionalmente; não importa como fizer, só não escreva no papel! Esse é um exercício prático, pra ser feito no seu instrumento musical, seja ele externo ou seu próprio corpo. Até hoje uso esse exercício, principalmente quando me pedem para compor num determinado estilo.

                Outro tipo de improviso que pode ser feito sozinho é pegar a melodia de uma canção tradicional e "vesti-la" em maneiras diferentes, mudando a tonalidade, a harmonia, o ritmo, os timbres, até a própria melodia através de novos acentos, supressão de notas, espelhos, pausas etc. Tente, porém, deixar algo no improviso que remete à melodia original, e pra saber se isso realmente foi feito, mostre pra alguém e pergunte com que a música se parece.

                Se você não consegue fazer essas práticas sozinho, procure urgentemente grupos de improviso e profissionais que sabem como despertar os processos criativos. 
                               
Feijão com arroz - dicas para dia a dia

                Disciplina

                Estabeleça horários para compor. Cada um sabe o quanto separar do seu dia ou semana pra essa atividade, e o próprio desenvolvimento das composições vão mostrar qual é a sua necessidade. Procure cumprir os horários pré-estabelecidos, mesmo se você não tiver nenhuma ideia pra desenvolver. Nesses casos, você pode improvisar, ler sobre o assunto, escutar músicas e os sons ambientes, tocar músicas de outros compositores, tocar suas próprias composições... O importante é afirmar que esse espaço temporal é dedicado à composição.

                Presença, entrega, concentração

                O horário estabelecido pra composição precisa das qualidades acima. Se você tiver outras preocupações na cabeça, vai resolvê-las, se for possível, ou faça uma meditação, ou vá caminhar pra espairecer, ou faça respirações profundas, atividades físicas, yoga, sei lá, faz o que for necessário pra trazer seus pensamentos e sentimentos pro ato de compor ou pras atividades relacionadas à composição.

                Banco de ideias musicais

                Apareceu uma ideia, grave! Qualquer celular mequetrefe dá conta do recado. Quantas vezes perdi ideias tentando escrevê-las no ônibus e cantarolando até chegar em casa... Hoje em dia, não tem mais desculpa, dá pra gravar em qualquer lugar que os sons apareçam! Não tenha vergonha de cantar na rua, e se as ideias surgirem no meio de outra atividade, dá sempre pra pedir licença e ir até o banheiro... Grave todas as ideias, mesmo as que parecem tolas, e crie uma pasta em seu computador para guardá-las. Uma vez por mês vai lá ouvi-las, ou as use quando entrar nos períodos de estio criativo.  Faça a mesma coisa com os improvisos.

                Atenção ao senso crítico

                Ter senso crítico é ótimo, mas o use com critério. Se você achar que tudo o que inventa é horrível , o que até pode ser verdade, vai acabar com suas possibilidades criativas. Aceite o que vier, com carinho. Nem todas as ideias viram música, nem todas as músicas você vai querer mostrar, mas podem servir como exercícios preparatórios para futuras composições. Deixe os sons se aproximarem, deixe-os germinarem, crescerem. Às vezes o que não é legal pra gente pode ser pros outros, e vice-versa. Você escolhe o que, como e pra quem vai mostrar; você escolhe o que fazer com suas ideias musicais, improvisos, composições.  A gente aprende com a prática, com os erros. Faça suas escolhas com generosidade. Se de 100 composições uma for do jeito que você gosta, já valeu a trabalheira, né?  

                Fazendo o pãozinho

                Assim como o marceneiro trabalha a madeira, o compositor trabalha os sons: pra tornar a ideia audível é necessário saber da matéria sonora, das ferramentas e das maneiras que a transformam... Portanto,  estude, desenvolva suas habilidades musicais, leia sobre música, informe-se.

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“ Compor é muito mais do que transformar a matéria sonora,
é impregná-la de sentimentos, emoções, intenções submersas;
compor é jogar luz nos espaços escuros do Ser,
é organizar tudo isso em padrões mutáveis,
é tornar audível o que não cabe em palavras,
é sossegar tempestades.
Compor é um movimento da Alma. ”

Elisabet Just, 17 fevereiro 2013

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