quarta-feira, 28 de março de 2012

Tem um buraco no meio do caminho

                Tem um buraco no meio do caminho... Sei lidar melhor com as pedras: as removo, transformo em flores, contorno, pulo, ou simplesmente aceito. Os buracos ainda são difíceis de entender. Se for  pequenino, salto, dou a volta, se for grande, muitas vezes a melhor opção é entrar com o corpo todo, ficar um tempo ali, fazer a vistoria do espaço ou não fazer nada, só ficar ali, quietinha, em meditação. Quem sabe consigo até sair dali com um diamante!

domingo, 25 de março de 2012

A grande fuga


                O que fazer ao perceber que nada faz sentido, que tudo é uma grande fuga? Tudo, a personalidade, o que essa personalidade pensa, cria, sente e faz, tudo é uma maneira de preencher  o buraco primordial, a ferida aberta que explode. Quem sou? Quem sou, de verdade, tirando o gesto aprendido? Nada. Gostaria de realmente me sentir nada e vazia, mas  estou poluída de experiências mal digeridas; estou apegada às formas que criei num passado distante e que já não me servem mais. Sim, nada faz sentido. Sim, tudo faz sentido. Sim, é uma grande fuga, mas habito um navio de loucos que ruma ao naufrágio, e ter consciência desse fato só me torna consciente desse fato, nada mais que isso. Nem superior, nem inferior, melhor ou pior, ou quaisquer das nuances internas a esses extremos. Apenas consciente, fazendo o melhor pra me curar. 

sexta-feira, 23 de março de 2012

"Ó, Deus, todo dia tem mesmo que aprender alguma coisa?"

                Como disse uma amiga minha: “Ó, Deus, todo dia tem mesmo que aprender alguma coisa?”  Vou em frente... Ó, Deus, me dá umas férias? Pelo menos um dia??? Tipo assim, ficar largada numa rede debaixo de um coqueiro tomando água de coco gelada e olhando o sol morninho refletido nas ondas do mar... se for possível, que a paisagem seja embelezada por garotões bronzeados e sorridentes jogando futebol lá longe (bem longe!) e uns surfistas exibidos singrando as ondas.  Quem sabe até um eunuco  - sim, um eunuco pra não ter que pensar em nada! - mudo-cego-surdo e lindíssimo, e que só saiba me abanar com plumas coloridas de pavão.  Já que é pra sonhar, que neste dia eu seja invisível, incomunicável e que todas minhas necessidades sejam saciadas sem precisar sequer pensar. Melhor: que nem tenha necessidades! Um dia pra simplesmente estar, sem emoções, pensamentos, reflexões, atitudes, desejos... Sem livros, sem músicas, sem conversas, sem ideias, sem projetos, sem elucubrações ...   


Hmmm...         Que gostoso...                        Hmmm... ... ... ... ... 


hmmmm ...   ...    ...    ...   ...    ...   . . .     .  .  .     




 hmmmmmm               .   .   .                  .  .  .                        .  .  .                    . .  . 
   




hmmmmm           .                       .                       .                                              .                       .                       .                                            








Ai, que chato! Dá pra ser só um meio dia ???







domingo, 11 de março de 2012

Era uma vez uma mulher

Era uma vez uma mulher fraturada e sem consciência de suas fraturas. Uma dor profunda a mantinha num poço escuro, apesar de só saber expressá-la com sorrisos; uma dor escondida pela vergonha de se assumir frágil e vulnerável. Uma dor sufocada. Foram passando os anos, e a dor crescia, e quanto mais tentava sair do poço, mais se afundava; quanto mais procurava novos caminhos, percebia que só conseguia rodar em círculos. As dores aumentaram e acabaram por sair pelos poros, em sua pele, em seus ossos, na fala truncada, no pensamento desconexo, na ausência de vida, e quando achava que não tinha mais nada a perder, perdeu o que sequer sabia ter. Então, começou o regresso ao desconhecido, aquilo que nunca nenhum livro mostrou, que nunca ninguém lhe disse, mas que todo mundo conhece em variadas formas, da sua própria maneira, ao despertar. Começou o regresso ao ponto proibido, aquele que sua couraça fortalecida em anos de afirmação e autossuficiência não permitia. Mas era tudo inconsciente, um movimento interno forte que se dava em rompantes de criatividade. Os rompantes começaram a ter mais constância, e as dores vieram à tona. Era uma vez uma mulher fraturada que indaga sobre os porquês de suas fraturas. 

sábado, 10 de março de 2012

Recorte

Observo percepções, pensamentos, sons... respiro pausadamente e me deixo permeável. Sensível e permeável, como uma esponja. Sinto. Sinto nem muito, nem pouco. Sinto sem medida, sem julgamentos, sem direções, sem controle. Não é vazio o que sinto, a sensação é de plenitude. Não é bom, nem é ruim: é. Pareço ser inteira, pertencente, poderosamente suave, amorosamente forte. Presente.