domingo, 11 de março de 2012

Era uma vez uma mulher

Era uma vez uma mulher fraturada e sem consciência de suas fraturas. Uma dor profunda a mantinha num poço escuro, apesar de só saber expressá-la com sorrisos; uma dor escondida pela vergonha de se assumir frágil e vulnerável. Uma dor sufocada. Foram passando os anos, e a dor crescia, e quanto mais tentava sair do poço, mais se afundava; quanto mais procurava novos caminhos, percebia que só conseguia rodar em círculos. As dores aumentaram e acabaram por sair pelos poros, em sua pele, em seus ossos, na fala truncada, no pensamento desconexo, na ausência de vida, e quando achava que não tinha mais nada a perder, perdeu o que sequer sabia ter. Então, começou o regresso ao desconhecido, aquilo que nunca nenhum livro mostrou, que nunca ninguém lhe disse, mas que todo mundo conhece em variadas formas, da sua própria maneira, ao despertar. Começou o regresso ao ponto proibido, aquele que sua couraça fortalecida em anos de afirmação e autossuficiência não permitia. Mas era tudo inconsciente, um movimento interno forte que se dava em rompantes de criatividade. Os rompantes começaram a ter mais constância, e as dores vieram à tona. Era uma vez uma mulher fraturada que indaga sobre os porquês de suas fraturas. 

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