quinta-feira, 24 de abril de 2014

Cicatriz não dói



    A vida é sábia e está tudo certo. A vida te enche de luz, de força, e na hora em que você se sente a rainha da cocada, zapt, a suposta cicatriz abre-se de novo. 
     Algum fato, imaginário ou real, desencadeia o processo. As reações são as mesmas da criança ferida,  semelhantes artimanhas em essência,  porém mais complexas e diversificadas, que servem apenas para sobreviver à dor primeira mas ainda não conseguem cicatriza-la. 
     E cá estou, entre milhões de coisas pra fazer, olhando no fundo, deixando a dor fluir, tentando saber como é que vou conviver com ela, como é que vou fazer pra sair dos PCRs, como é que vou encontrar um jeito de cicatrizar a ferida, como é que vou viver em paz, como é que vou integra-la. 
     Se hoje tenho mais recursos, sei identificar as causas primeiras e reconheço em um piscar de olhos que é a dor da ferida aberta que está invadindo minha praia, ainda não consigo apreciá-la, não a aceito como parte de mim, nem reconheço sua utilidade. Quero empurrá-la pro seu cantinho, e quanto mais a enxoto, mais ela grita. Eu grito.
     Ok, feridona, você existe. É forte, moldou parte dessa personalidade, e começo a vislumbrar, com resistência, aspectos positivos decorrentes da sua dor. O quadro ainda está nebuloso, como o dia lá fora, mas prevejo clareza. 

terça-feira, 1 de abril de 2014

Quem viver, verá!

          A primeira imagem que vi hoje pela janela foi a de pessoas conversando, se abraçando, caminhando sem pressa, sorrindo umas às outras. Uma criança desacelerava o passo para acompanhar sua avó, o homem de boné dava um respeitoso bom dia à moça exuberante de minissaia, algumas pessoas cantavam juntas canções sobre o milagre da vida, outras rodopiavam contentes na dança da liberdade responsável, outras ainda cheiravam flores das inúmeras árvores da rua, e todas, todas as pessoas que pude apreciar da minha janela, faziam o bem sem olhar a quem. 
        Corri pro chuveiro, me aprontei depressa pra sair pelas ruas e comemorar o dia que tanto lutei pra construir. Era só harmonia, a doce alegria de cada um viver sua vida sabendo ao mesmo tempo como cuidar dos outros.
       Tudo funcionava perfeitamente: os transportes públicos, o sistema de saúde, a educação ... Todos tinham seu lugar para morar, todos se alimentavam, se vestiam, dormiam, se divertiam, se conheciam, estudavam, liam, refletiam, viajavam, aprendiam e ensinavam o que sabiam. Todos partilhavam sua sabedoria, suas verdadeiras paixões e simplesmente, tudo se encaixava como devia ser. 
       O ar tornou-se limpo, regenerou nossos pulmões; a terra prosperou e, generosa, ofereceu-nos a nutrição; a água absorveu nossos bons pensamentos, transformou seus átomos, proliferou e jorrava abundante, feliz com a vitória humana; o fogo acendia a chama divina em nossos corações; o éter finalmente consagrou-se como quinto elemento. 
        O sonho se realizou: os seres humanos conseguiram vencer seus próprios obstáculos, superaram suas feridas mais profundas e hoje todos acordaram para realizar suas verdadeiras expressões de alma. 

Escrevi esse texto depois de vivenciar a experiência mais transformadora da vida.

Gratidão à equipe do Ser Líder, aos padrinhos, ao grupo Vida Silva e ao Emerson Feliciano!

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