A vida é sábia e está tudo certo. A vida te enche de luz, de força, e na hora em que você se sente a rainha da cocada, zapt, a suposta cicatriz abre-se de novo.
Algum fato, imaginário ou real, desencadeia o processo. As reações são as mesmas da criança ferida, semelhantes artimanhas em essência, porém mais complexas e diversificadas, que servem apenas para sobreviver à dor primeira mas ainda não conseguem cicatriza-la.
E cá estou, entre milhões de coisas pra fazer, olhando no fundo, deixando a dor fluir, tentando saber como é que vou conviver com ela, como é que vou fazer pra sair dos PCRs, como é que vou encontrar um jeito de cicatrizar a ferida, como é que vou viver em paz, como é que vou integra-la.
Se hoje tenho mais recursos, sei identificar as causas primeiras e reconheço em um piscar de olhos que é a dor da ferida aberta que está invadindo minha praia, ainda não consigo apreciá-la, não a aceito como parte de mim, nem reconheço sua utilidade. Quero empurrá-la pro seu cantinho, e quanto mais a enxoto, mais ela grita. Eu grito.
Ok, feridona, você existe. É forte, moldou parte dessa personalidade, e começo a vislumbrar, com resistência, aspectos positivos decorrentes da sua dor. O quadro ainda está nebuloso, como o dia lá fora, mas prevejo clareza.