terça-feira, 19 de junho de 2012

Amor é Amor, ciúmes é enrosco emocional


          Ciúmes é uma meleca emocional, mas quem sente, sente... e quem é o objeto do ciúme, também sente as consequências de uma coisa que nem sua é.   Quem  tem o azar de ter desenvolvido dentro de si  essa emoção sofre, não dá pra negar, é difícil pacas olhar praquela babaquice, saber que não tem nada a ver, mas o troço não te abandona porque te pertence. Aí não tem saída, tem que saber lidar com a sombra, senão ela te engole.


         O lance é como expressar – e se expressar – essa bobeira. Há 15 anos,  passei  férias com uns amigos e, dentre eles, tinha um casal que está junto até hoje. Já dava pra perceber que a relação era forte... A mulher era (e é) muito especial, bonita pacas, sensível, carismática, etc, e o cara também, com uma característica particular e diferente dela, a de ser  daqueles tipos de homens “pavões”,  altamente sedutor e sempre em busca de um novo aplauso feminino. Um dia, estávamos os três no banco de trás do carro e ele, por ser ele e sem nada de particular ou pessoal, estava jogando suas plumas pra cima de mim. Na época ficava muito constrangida com essas situações, era ainda bem imatura, e o que mais me incomodova era saber que se estivesse na posição da mulher dele, já teria descido do carro ou armado o maior barraco. Mas ela não agiu assim. Ô mulher sabida! Lá pelas tantas, interrompeu nossa conversa com muita doçura, fez um carinho no rosto de seu marido e disse: "Você está dando tanta atenção pra Elisabet que estou começando a ficar com ciúmes." Ah, ele desmontou o Don Juan na hora, deram um super beijo daqueles bem amorosos e o cara sossegou o facho. Naquele dia aprendi uma grande lição, ou melhor, ainda estou tentando aprender na íntegra...


             Não acredito que ciúmes seja indicador da presença do Amor, pelo contrário, é só uma  expressão pessoal de carência afetiva, necessidade de marcar território, apego, necessidade de submeter o outro à sua vontade e de controlar a situação. Amor é outra história... amor é aquele lance gostoso, que vibra pelo outro, um bem querer desapegado, um sentir-se bem  na relação estabelecida, o gostar do outro como é e está. Quem ama, quem já amou, sabe que nem sabe porque ama! Amor não tem cobrança, nem tem motivo pra isso, porque só o fato de experimentar esse sentimento basta. Amar é bom demais!


             O Amor tá dentro da gente, todo mundo tem e quer compartilhá-lo nos formatos e expressões que conhece. Existem várias maneiras de viver o Amor, e isso se constrói a dois, de acordo e com respeito às vidas envolvidas, sem forçar a barra, porque tem vezes que dá, tem vezes que não dá. Às vezes rola uma história concreta a dois, às vezes se transforma em outros tipos de relação afetiva, a amizade é uma delas, às vezes tem tanta gosma emocional atrapalhando esse sentimento lindo, que não rola nada mesmo, o Amor sai correndo em disparada. O Amor se assusta com a truculência e se afasta. 


                                           Amor quer Amor... 


quarta-feira, 13 de junho de 2012

E qual é o caminho do meio?

 




                A primeira vez que lembro ter tido um contato avassalador com a expressão mais profunda do meu ser, aconteceu quando era bem pequena. Passeava de mãos dadas com Maria, a moça que trabalhava em casa, e vi uns meninos atirando pedras num gatinho. Não deu tempo da Maria me segurar, saí correndo e me coloquei entre os meninos e o animal. Falei um monte de coisas pros moleques, palavras que vieram sei lá de onde, e sei lá como aprendi, um tentou atirar mais uma pedra no bichinho mas antes  atirei uma pedra nele, e aí  os garotos saíram correndo ao invés de me enfrentarem. O gatinho aproveitou a confusão e fugiu; eu voltei pra casa ouvindo pito da Maria e minha mãe me colocou de castigo. Não entendi porque tomei pito, nem porque fui castigada, já que tinha certeza ABSOLUTA da justiça daquela ação, mas me calei porque as duas, de acordo com a lógica que usavam, também estavam certas: os meninos podiam ter me machucado gravemente e talvez hoje sequer estaria aqui pra contar essa história.
                Ali ficou claro o quanto seria difícil encontrar “o caminho do meio”, a medida certa para continuar viva e ao mesmo tempo expressar os movimentos internos. Foi duro o trabalho para me tornar um ser humano aceitável na sociedade, ou seja, aprender  a ser medrosa, conivente com as injustiças, dócil, hipócrita, egoísta e uma pessoa que sufoca suas expressões mais profundas em prol da estabilidade das situações; um trabalho árduo e cotidiano, onde tomei muitas porradas pra “endireitar” (e ainda tomo); onde muitas vezes cedi pra ser “aceita” (e ainda cedo), nesta busca contínua do equilíbrio entre Ser e Estar em Relação.
            Apesar de todas experiências e escolhas, apesar de todas máscaras, LUZ e Sombra, a Alma continua intacta e em situações limites, quando é impossível ser de outro jeito, ela grita sua força. Que o TODO, Deus, energia primordial, etc, permita continuar a ter contato direto com esses movimentos internos, com minha Alma, e que se expresse com/em Amor e Sabedoria.


                Assim seja. 




Ilustração de Roberto Weigand - "O equilibrista"
http://www.robertoweigand.com.br/blog2/