domingo, 16 de março de 2014

O casamento



     Casei-me no início dos anos 90, usando calça jeans e tênis, numa cerimônia realizada apenas com os padrinhos. Contive o riso diante do rosto mal humorado do juiz ao saber da ausência das alianças e achei muito estranho a emoção transformada em choro e soluços de uma das madrinhas, assim como a comemoração discreta sob uma chuva de arroz e champagne oferecida pelos cinco amigos testemunhas diante “del Comune di Milano”. Na segunda união nem isso teve, o ritual foi uma singela troca de anéis no aeroporto, muito desajeitada, que selava um compromisso pouco claro para mim.
     Passei muito tempo na vida nadando contra a maré, questionando padrões de comportamento ditado pelas normas vigentes e analisando apenas seus aspectos negativos, na tentativa de quebrar as correntes restritivas das expressões de um ser livre, pouco adequado às superficialidades exigidas nos ritos sociais. Hoje percebo com carinho aquela menina irreverente, dou-lhe a atenção necessária sem alimentar suas críticas cegas, incabíveis no contexto de quem experimentou tão intensamente a vida. E viva a maturidade!
    Com o coração aberto, ontem experimentei a alegria da comemoração generosa dos jovens que compartilharam esse rito de passagem com amigos e familiares. Chorei. Chorei emocionada ao ver meu priminho tentando controlar as lágrimas que escorriam de seu rosto menino e ao ouvir a voz trêmula da noiva em seus votos. Chorei de felicidade pela felicidade que reinava. Acho que finalmente compreendi o choro de minha madrinha...
     Passados os anos do “contra” – com certeza necessários na época! – sinto-me livre pra experimentar maiores nuances de beleza: as cores da palheta foram ampliadas. Sem medo de ter a liberdade cerceada e sabendo das minhas escolhas, dei-me novas oportunidades.  Estive presente na cerimônia e na festa: chorei de emoção, diverti-me,  abracei, conversei, ouvi, observei, interagi, dancei, admirei, paquerei, comi e bebi, matei a saudade da família, senti corações, senti o ar permeado pelo o  amor dos recém-casados, senti-me grata pela consideração do convite.
     A cerimônia religiosa foi celebrada com palavras  inteligentes do reverendo da Igreja Anglicana. O padre usou palavras coloquiais, em tom descontraído, brincalhão e ao mesmo tempo respeitoso.  Enfatizou a igualdade entre homens e mulheres apoiado no evangelho, e foi respeitoso aos diversos credos dos presentes sugerindo aos não cristãos que pensassem em coisas positivas para o casal enquanto fosse feita a oração do Pai Nosso. A festa foi maravilhosa, cheia de gentes amigas, pessoas que não via há tempos e tantas desconhecidas, muitos jovens amigos do casal, muita prosperidade, beleza e brincadeiras nos vídeos projetados. Tudo feito com esmero para deixar esse dia inesquecível. Tudo feito com carinho e amor.
     Aprendi tanto ontem e estou contente por fazer parte da vida com novo tempero. Entendi ser capaz de compartilhar a beleza da realização de sonhos, mesmo  sendo tão diferentes dos meus. A essência é a mesma, é o mérito do reconhecimento depois de grandes batalhas. Isso é bonito, é humano.
     Ainda não aprendi, porém, a sofrer em vestidos apesar das roupas maravilhosas emprestadas e dos conselhos da “personal stylist” Claudia Nogueira Brandão, e acabei vestindo calça comprida numa festa onde predominava o longo. Bom, pelo menos consegui deixar em casa a mochila vermelha...

     Parabéns aos recém-casados, que sua nova família seja  o reflexo da generosidade, harmonia, amor, saúde e prosperidade de ontem!