Casei-me no
início dos anos 90, usando calça jeans e tênis, numa cerimônia realizada apenas
com os padrinhos. Contive o riso diante do rosto mal humorado do juiz ao saber da
ausência das alianças e achei muito estranho a emoção transformada em choro e
soluços de uma das madrinhas, assim como a comemoração discreta sob uma chuva
de arroz e champagne oferecida pelos cinco amigos testemunhas diante “del
Comune di Milano”. Na segunda união nem isso teve, o ritual foi uma singela troca
de anéis no aeroporto, muito desajeitada, que selava um compromisso pouco claro para mim.
Passei muito
tempo na vida nadando contra a maré, questionando padrões de comportamento ditado
pelas normas vigentes e analisando apenas seus aspectos negativos, na tentativa
de quebrar as correntes restritivas das expressões de um ser livre, pouco
adequado às superficialidades exigidas nos ritos sociais. Hoje percebo com
carinho aquela menina irreverente, dou-lhe a atenção necessária sem alimentar
suas críticas cegas, incabíveis no contexto de quem experimentou tão
intensamente a vida. E viva a maturidade!
Com o coração
aberto, ontem experimentei a alegria da comemoração generosa dos jovens que
compartilharam esse rito de passagem com amigos e familiares. Chorei. Chorei
emocionada ao ver meu priminho tentando controlar as lágrimas que escorriam de
seu rosto menino e ao ouvir a voz trêmula da noiva em seus votos. Chorei de
felicidade pela felicidade que reinava. Acho que finalmente compreendi o choro
de minha madrinha...
Passados os anos
do “contra” – com certeza necessários na época! – sinto-me livre pra experimentar
maiores nuances de beleza: as cores da palheta foram ampliadas. Sem medo de ter
a liberdade cerceada e sabendo das minhas escolhas, dei-me novas oportunidades.
Estive presente na cerimônia e na
festa: chorei de emoção, diverti-me, abracei,
conversei, ouvi, observei, interagi, dancei, admirei, paquerei, comi e bebi, matei
a saudade da família, senti corações, senti o ar permeado pelo o amor dos recém-casados, senti-me grata pela
consideração do convite.
A cerimônia
religiosa foi celebrada com palavras inteligentes do reverendo da
Igreja Anglicana. O padre usou palavras coloquiais, em tom descontraído,
brincalhão e ao mesmo tempo respeitoso. Enfatizou
a igualdade entre homens e mulheres apoiado no evangelho, e foi respeitoso aos
diversos credos dos presentes sugerindo aos não cristãos que pensassem em coisas
positivas para o casal enquanto fosse feita a oração do Pai Nosso. A festa foi
maravilhosa, cheia de gentes amigas, pessoas que não via há tempos e tantas
desconhecidas, muitos jovens amigos do casal, muita prosperidade, beleza e
brincadeiras nos vídeos projetados. Tudo feito com esmero para deixar esse dia
inesquecível. Tudo feito com carinho e amor.
Aprendi tanto
ontem e estou contente por fazer parte da vida com novo tempero. Entendi ser
capaz de compartilhar a beleza da realização de sonhos, mesmo sendo tão diferentes dos meus. A essência é a
mesma, é o mérito do reconhecimento depois de grandes batalhas. Isso é bonito,
é humano.
Ainda não
aprendi, porém, a sofrer em vestidos apesar das roupas maravilhosas emprestadas
e dos conselhos da “personal stylist” Claudia Nogueira Brandão, e acabei
vestindo calça comprida numa festa onde predominava o longo. Bom, pelo menos
consegui deixar em casa a mochila vermelha...
Parabéns aos
recém-casados, que sua nova família seja o reflexo da generosidade, harmonia, amor,
saúde e prosperidade de ontem!