terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Desfazendo nós

    Quando vejo, estou a desembaraçar correntes. Não gosto nem desgosto disso, as oportunidades simplesmente aparecem e faço, nesses casos, desfaço os nós.  
      Sou boa nisso, muitos colares e pulseiras já perceberam, sabem que podem se enrolar na minha frente sem ficarem amarrados ou correrem o perigo de serem quebrados por dedos menos habilidosos.
     Enquanto denodo mais uma corrente, rio sozinha, pensando na simbologia  da ação, como desbloquear energias paradas, estranguladas pelos nós, e percebo o quanto a fluidez é vital para meu Ser.
       Observo que partes de mim se articulam na execução da tarefa e, naquele momento, sou apenas paciência, lógica, abstração, tranquilidade, delicadeza, mas também estranhamente inteira e presente na ação. 
      Desta vez foi mais fácil, rápido, em poucos segundos pude apreciar os pingentes brilhando de felicidade em poder circular livremente por toda a corrente. 

terça-feira, 9 de junho de 2015

Lá em cima do piano

         Lá em cima do piano tinha um copo de veneno. Bebi, morri, renasci mais forte. Tem mais veneno lá em cima do piano, saborosas sombras de sons.

domingo, 7 de junho de 2015

Acordar

         Acordar é estar de acordo com a vida, experimentar, perceber e observar  a cada momento as emoções,  recebendo e entregando com coração. É saber-me sagrada, humana, divina, mulher, música etc;  é saber-me UNO e ao mesmo tempo interagir conhecendo, usando, transformando as reais expressões da alma, as qualidades energéticas individuais. É alçar vôos, é brincar com amigos, é brilhar e alimentar brilhos.  É saber que a batalha já está vencida, que todos os caminhos levam a Brahman, que está tudo certo e que estou aqui para viver a vida em todas as dimensões que o  nível de consciência do momento permitir. É saber-me em crescimento e expansão. É saber-me,  no meio dessa aventura, Tudo e Nada. 

          GRATIDÃO !!!

A plenitude do vazio

       Na condução de um exercício no curso de mediunidade, no qual nos imaginávamos em uma ilha deserta, foi pedido para levarmos na mochila cinco pedras, representando as coisas essenciais em nossas vidas. 

        No primeiro momento, pensei no piano, diapasão, lápis, papel e, quando estava para decidir a última pedra, o facilitador disse ao grupo para pedir assistência aos amigos espirituais, amparadores, ao EU Superior. Assim fiz, e no mesmo momento a mochila foi preenchida com Sabedoria, Poder, Amor, Saúde e Confiança. 

      Estava me sentindo ótima com essas "pedras", voando pelos percursos sugeridos, até o momento de decidir jogar a primeira, segunda, terceira, quarta pedra...

      Não me lembro da sequência das primeiras, só me lembro do desespero ao abandonar da mochila a última, o Amor.

      O vazio era pleno. Acredito ter experimentado a sensação de vacuidade. 

( Em abril de 2014, no Curso de Mediunidade da Maísa Intelisano; condutor do exercício: PC Pena ) 

quarta-feira, 3 de junho de 2015

O conto do sapo, escorpião, Banderas e Dietrich

         Era uma vez um escorpião que pediu passagem a um sapo para chegar a outra margem do rio. Enquanto o sapo pensava no que dizer, lembrou-se que, tempos atrás, havia dado carona a outro de sua espécie e sobrevivido à picada. Como se sentia mais forte depois de ter recebido o veneno, ficou até com saudade da natureza dos escorpiões. 

       Estava para dizer SIM quando, num piscar de olhos, foi arrancado do rio, recebeu um beijo do Antonio Banderas e se transformou na Marlene Dietrich em sua versão balzaquiana. Banderas, entorpecido pela beleza e talento da rainha, jurou amor eterno a dama e a pediu em casamento. Uauuu!!!

        Marlene sapinho Dietrich olhou para Banderas, depois olhou para o escorpião, olhou de novo para Banderas, olhou de novo para o escorpião e aí olhou pra si mesma. Olhou para si mesma. Olhou de novo para si mesma, respirou fundo e, realmente, gostou muito do que viu. 

         Então, com todo charme, sensualidade, delicadeza, elegância etc, cantou as seguintes palavras para os dois cavalheiros: "Quero mais da vida!" 

         E assim saiu, por aí, rodopiando seu lindo vestido de seda. 

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Livre e floreada história de UMA

     Uma é a reencarnação de Sati (esposa e grande amor de Shiva) que se suicidou por não conseguir suportar a dor da rejeição do pai por seu casamento com Shiva. 
 
    Quando Sati se suicidou, Shiva enlouqueceu de tanto desespero.  Foi morar na montanha para praticar *Tapas, transformou-se em um ser medonho, virou celibatário e se isolou do mundo.
 
    Uma sabia de sua encarnação anterior como Sati, assim como era consciente de que sua missão na terra era a de realizar o Amor com Shiva, mas o Mahadeva estava preso em sua história do passado e não a reconhecia.
 
    Enquanto Uma sentia-se impotente diante da indiferença de Shiva, por “coincidência” rolou que o ** Asura Taraka queria destruir o universo e nenhuma deidade dava conta da figura. Os deuses foram conversar com Brahma pra dar um jeito no cara e Brahma disse que nem ele podia resolver isso, só Shiva e Uma unidos, o poder do fogo e da água juntos, somente a união das forças do casal poderiam gerar o poder necessário pra bloquear as ações do “demônio”.
 
    Então as divindidades começaram a tramar um encontro entre Shiva e Uma. Levaram Uma à montanha pra ser serviçal do Shiva, e tentaram lançar um feitiço  pra ele se encantar com a moça. Shiva se ligou, acessou seu terceiro olho, descobriu a farsa e repudiou a garota.
 
    Uma voltou pra casa arrasada, e percebeu que a única maneira de se aproximar do seu grande Amor seria levar a mesma vida dele. Assim decidiu mudar-se também para as montanhas e praticar Tapas. 
 
    Uma era uma moça lindíssima, os deuses babavam por ela, mas ela não dava trela pra ninguém porque sabia de sua missão, era devota a Shiva, seu coração era Shiva. Com perseverança e determinação, praticou durante anos Tapas, emagreceu muitíssimo mas sem perder a beleza, e tornou-se uma mulher madura, forte e poderosa, tanto que um dia Shiva se aproximou dela e perguntou: "O que você está fazendo aqui? Você não precisa disso, você é uma mulher linda, devia arranjar marido. Qual o motivo de tanto esforço?"
 
    Uma não respondeu nada, jamais falaria de seu Amor e devoção ao próprio Shiva, mas uma amiga fofoqueira foi lá soprar a história no ouvido do Shiva.  Shiva ficou possesso, e foi perguntar a Uma como ela podia ser devota a um cara horrível e com três olhos como ele, ao que Uma respondeu : "Eu é que me surpreendo como um cara sábio e que pratica há tanto tempo Tapas não tenha a consciência de ser ele mesmo devoto à Shiva." Aí Shiva deu aquele piti característico e usou inúmeros argumentos para convencer Uma do absurdo de sua devoção, até a hora em que Uma falou que não iria mais argumentar com ele e declarou seu Amor, que seu coração estava repleto de Shiva. 
 
    Tocado pelo verdadeiro Amor de Uma, a partir desse momento Shiva retornou à sua exuberante forma original, casou-se com Uma e os dois fizeram uma lua de mel que durou anossss na monte Kailash, mais de 25 anos de paixão intensa!
 
   Dessa união nasce a divindade Kamara, que tornou-se o general que destruiu o Asura Taraka.
 
                                     . . . . . . . . . . . . . . . . . .
 
    O texto acima é uma livre e "floreada" tradução do texto escrito por *** Sadie Hadley sobre a obra de **** Kalidasa, poeta e dramaturgo indiano que viveu por volta do séc. V.
 

 
   Uma é a essência divina feminina que expressa a mulher madura, decidida, focada, que enfrentou suas sombras, viajou por suas profundezas e retornou forte, poderosa, sabendo o que quer e tendo à sua disposição todos recursos femininos para realizar seus objetivos. 
 
 
                 OM NAMAH UMAYE, OM UMAYE NAMAHA!
 

                                                  . . . . . . . . . . . . 
 
 
 
* Tapas : palavra em sânscrito comumente traduzida por "austeridade". Sua raíz (tap), significa "tornar-se ardente", e o termo usado para dizer chama ou brilho, tejas, vem da mesma raiz. Na palavra tapas temos embutida as ideias de luz, calor, fogo ou radiância, símbolos que nos lembram a importância da motivação ao realizar quaisquer ações. Embora possamos de fato traduzir tapas corretamente como disciplina ou austeridade, uma tradução mais exata seria “esforço sobre si mesmo”. Eventualmente pode significar "geração de poderes mágicos ou supernaturais pelo acesso ao calor/fogo interior por meio do ascetismo (sofrendo dores físicas e árduas meditações)".
 
** Asura : palavra em sânscrito que significa a negação de "Sura" (Deus, divindade), podendo ser traduzida como "Antideus".
De acordo com os Vedas (os quatro livros sagrados da cultura hindu), os Asuras figuram como antagonistas dos Suras ou Devas (divindades). 
Os Asuras são seres poderosos e, no hinduísmo tardio, são considerados demônios. Curiosamente a palavra Asura denotava antes o Divino supremo, uma conotação mantida no cognato Ahura do Zoroastrismo. Talvez daí venha a correlação com a tradição judaico-cristã, na qual os Asuras poderiam ser descritos como Anjos Caídos.
A literatura pós védica oferece várias etimologias ao termo, nenhuma das quais é definitiva. 
 
*** Sadie Hadley nasceu no Arizona, é bacharel em Antropologia Cultural e Mestre em literatura clássica oriental e sânscrito. Estudou e trabalhou na região dos Himalaias por diversos anos e atualmente dedica-se à ecologia e conservação de recursos. 
 
**** Kalidasa, o Mahakavya, foi um escritor e dramaturgo que viveu na Índia por volta do séc V. Sua importância na literatura é tão grande que é considerado como o Shakespeare dos indianos. O texto aqui tratado foi retirado do seu livro Kumarasambhava, no qual descreve a história de Uma e Shiva. 
 
 
Sites consultados:
 
 
 
Whole Earth:http://www.wholeearth.com/issue/2099/article/176/uma.and.shiva.or.the.origin.of.a.young.god
 
 
 
Yoga.pro.br :http://www.yoga.pro.br/artigos/971/3046/tapas-e-ser-mais-forte-que-as-proprias-fraquezas
 
 
 
Enciclopédia de Yoga da Pensamento :http://books.google.com.br/books?id=_mok6hBmTMQC&pg=PA46&lpg=PA46&dq=asura+yoga&source=bl&ots=IB8c-n1Hj8&sig=vC7Wk6z3xXqnX8A5YlCFcl24QCo&hl=pt-BR&sa=X&ei=rX1nU56jGtXfsASwwYGIBg&ved=0CGAQ6AEwCw#v=onepage&q=asura%20yoga&f=false
 
 
 
Kumarasambhava, cantos I à VII :https://archive.org/stream/KumarasambhavaCantosI-vii-SanskritCommentaryEnglishTranslationNotes/KumarasambhavaCantosI-vii-SanskritCommentaryEnglishTranslationNotes-MrKale1917_djvu.txt

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Cicatriz não dói



    A vida é sábia e está tudo certo. A vida te enche de luz, de força, e na hora em que você se sente a rainha da cocada, zapt, a suposta cicatriz abre-se de novo. 
     Algum fato, imaginário ou real, desencadeia o processo. As reações são as mesmas da criança ferida,  semelhantes artimanhas em essência,  porém mais complexas e diversificadas, que servem apenas para sobreviver à dor primeira mas ainda não conseguem cicatriza-la. 
     E cá estou, entre milhões de coisas pra fazer, olhando no fundo, deixando a dor fluir, tentando saber como é que vou conviver com ela, como é que vou fazer pra sair dos PCRs, como é que vou encontrar um jeito de cicatrizar a ferida, como é que vou viver em paz, como é que vou integra-la. 
     Se hoje tenho mais recursos, sei identificar as causas primeiras e reconheço em um piscar de olhos que é a dor da ferida aberta que está invadindo minha praia, ainda não consigo apreciá-la, não a aceito como parte de mim, nem reconheço sua utilidade. Quero empurrá-la pro seu cantinho, e quanto mais a enxoto, mais ela grita. Eu grito.
     Ok, feridona, você existe. É forte, moldou parte dessa personalidade, e começo a vislumbrar, com resistência, aspectos positivos decorrentes da sua dor. O quadro ainda está nebuloso, como o dia lá fora, mas prevejo clareza.