“A
depressão é algo minotaurico, um tentar sair do labirinto”, falou mais ou menos
assim uma querida amiga, agora há pouco.
Sim,
a depressão tem um quê de minotaurico... é como se ela fosse o próprio
Minotauro, que se alimenta de virgens e rapazes – que pra mim simbolizam as belezas da vida -
até que chega Teseu que, presenteado por sua morosa com um novelo de lã e uma
espada mágica, vence a parada. Teseu tem tudo ok pra derrotar o monstro, é forte,
corajoso, inteligente, determinado e subordina-se à vontade dos deuses aceitando
a sugestão do oráculo de Delfis, que
prediz sua vitória com a ajuda do amor, ao aceitar a proposta de casamento com
Ariana e, com isso, obtém seus presentes. Tanto na primeira quanto na segunda
etapa o herói não seria capaz de vencer apenas com seus atributos pessoais:
mata o bichão com a espada e sai do labirinto porque marcou o caminho com o fio
do novelo, que além de estar impregnado de amor, não tem nós.
Acredito
estar passando pela segunda etapa. Por ‘coincidência’ dia desses fui à casa da
minha irmã e passei horas tirando nós das correntinhas da sobrinha, num movimento
simbólico. Deitada em sua cama enquanto ela arrumava as roupas daquele quarto
gostoso e cheirosinho, num ambiente carinhoso, familiar, com o cachorrinho
subindo na barriga e de vez em quando lambendo minha cara, denodei o primeiro
colar sem esperar resultados, concentrada na tarefa do momento, com paciência,
tranquilidade, carinho. E fui pegando outros, sei lá, uns três ou quatro ou
cinco foram concertados, prontos pra
uso. No meio do processo comuniquei: “Assim como tiro os nós das correntes, vou
desatar os nós da minha vida!”.
Percebi
na atividade manual as qualidades essenciais pra sair do labirinto, pra
desenrolar e tirar os nós dos fios do novelo que me conduz à saída: paciência,
desapego, tranquilidade, carinho, presença, concentração, confiança, cuidado,
atenção. Não me concentrei no sucesso ou
insucesso da empreitada, me concentrei no que estava fazendo, no exato momento,
sem expectativas futuras. Estava confiante sim, confiante em estar fazendo o
melhor que podia mas sem tensão, sem querer me superar, sem a necessidade da
perfeição ou do acerto. Confiante na tentativa, sem atribuir valores às ações.
Nos
dias seguintes continuei com outros movimentos simbólicos mais comuns, como
jogar o velho pra dar espaço ao novo, limpar cantinhos escondidos, mudar as
coisas de lugar etc, aquele bando de coisa que sabemos que é legal fazer pra
deixar as energias fluírem. No entanto, foi necessária uma atividade nova,
imprevista – denodar colares – pra liberar outras ações que já conhecia.
Nesse
momento, tanto o mito quanto a atividade na casa da minha irmã me ensinam que
novelos – ou bijuterias - desatados estão ligados às qualidades inerentes aos
processos amorosos. Agora, é acordar e cultivar essas porções de Ariana, talvez
adormentadas pela experiência similar a fase posterior do seu lamento na ilha
de Naxos...
* * * * * * *
Agradeço
aos amigos e amigas de almas presentes
(incluindo aqui minha família), pacientes e amorosos nessa fase difícil.
Agradeço especialmente à Debs, querida amiga recíproca, que incitou
carinhosamente essas reflexões.
Gratidão ao TODO que me traz tantas boas oportunidades!
Nenhum comentário:
Postar um comentário