terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Enterrando mortos, alimentando vidas



            Em 2012 entendi o que significa enterrar os próprios mortos. Vivi, mais uma vez, a experiência da perda expressada no desespero, na dor, na decepção, na tristeza. Vivi o luto, vivi suas cinco famosas fases: a negação e o isolamento, a raiva, a barganha, a depressão e, finalmente, a aceitação. Agora cá estou, outra vez, a recomeçar.
            Sinto no ar o perfume suave da esperança e o toque gentil dos sonhos renovados. As músicas e as letras voltaram a me povoar; meu corpo escapa dançando dos fios de lã cinza: é que as gotas dourados do Amor estão preenchendo lentamente os espaços embrutecidos do coração.
            Agora entendo que, assim como enterrei mortos, também já alimentei vidas; tinha me esquecido disso naquela fase da noite escura. Uma vez aceita a condição, os mortos se transformam em estercos para as novas semeaduras.
            Aproveitei para enterrar partes da personalidade que obstruíam o acesso às maravilhas, e quero dizer com isso que aceito a generosidade, o respeito, o bem-querer, a gentileza, o otimismo, o sucesso, a excelência, a delicadeza, a saúde, o bem-estar, a felicidade, a prosperidade, a harmonia, a leveza, a doçura, o amor. Sepultei aquele bonismo infantil e orgulhoso que me fazia aceitar relacionamentos desprovidos de amor. Já foi tarde!
            Parto agora pra uma nova viagem e com reverência às essências divinas,  peço ao poderoso Ganesha que desobstrua com sua magnífica presença os caminhos; pego emprestado a espada dourada de São Miguel Arcanjo para cortar amorosamente as relações deletérias; de São Jorge guerreiro, que tem em seu rosto o louvor a Cristo, empresto seus escudos poderosos pra me defender das almas tristes que destroem sonhos; que Iansã me dê forças se a luta for necessária; que minha querida mãe Oxum doure meus passos com sua essência e que seja em benefício de todos; que minha doce Kwan Yin se faça presente com seu amor em forma de compaixão.
            Viajo sem mortos, parto com o que me pertence, empreendo a nova etapa dessa personalidade imperfeita sabendo que não estou só. Agradeço a jornada, e sonho em poder levar na bagagem só amor...

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