Em 2012 entendi o que significa
enterrar os próprios mortos. Vivi, mais uma vez, a experiência da perda
expressada no desespero, na dor, na decepção, na tristeza. Vivi o luto, vivi
suas cinco famosas fases: a negação e o isolamento, a raiva, a barganha, a
depressão e, finalmente, a aceitação. Agora cá estou, outra vez, a recomeçar.
Sinto no ar o perfume suave da
esperança e o toque gentil dos sonhos renovados. As músicas e as letras
voltaram a me povoar; meu corpo escapa dançando dos fios de lã cinza: é que as
gotas dourados do Amor estão preenchendo lentamente os espaços embrutecidos do
coração.
Agora entendo que, assim como
enterrei mortos, também já alimentei vidas; tinha me esquecido disso naquela fase
da noite escura. Uma vez aceita a condição, os mortos se transformam em
estercos para as novas semeaduras.
Aproveitei para enterrar partes da
personalidade que obstruíam o acesso às maravilhas, e quero dizer com isso que aceito
a generosidade, o respeito, o bem-querer, a gentileza, o otimismo, o sucesso, a
excelência, a delicadeza, a saúde, o bem-estar, a felicidade, a prosperidade, a
harmonia, a leveza, a doçura, o amor. Sepultei aquele bonismo infantil e
orgulhoso que me fazia aceitar relacionamentos desprovidos de amor. Já foi
tarde!
Parto agora pra uma nova viagem e
com reverência às essências divinas, peço
ao poderoso Ganesha que desobstrua com sua magnífica presença os caminhos; pego
emprestado a espada dourada de São Miguel Arcanjo para cortar amorosamente as
relações deletérias; de São Jorge guerreiro, que tem em seu rosto o louvor a Cristo,
empresto seus escudos poderosos pra me defender das almas tristes que destroem
sonhos; que Iansã me dê forças se a luta for necessária; que minha querida mãe
Oxum doure meus passos com sua essência e que seja em benefício de todos; que
minha doce Kwan Yin se faça presente com seu amor em forma de compaixão.
Viajo sem mortos, parto com o que me
pertence, empreendo a nova etapa dessa personalidade imperfeita sabendo que não
estou só. Agradeço a jornada, e sonho em poder levar na bagagem só amor...
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