terça-feira, 14 de agosto de 2012

Sabiá-laranjeira


    
    
    No meio do barulho dos carros, motos, dos gritinhos infantis brincando na escola, do zun-zun-zun das pessoas conversando no celular e da furadeira esburacando o prédio, um sabiá-laranjeira esbanjava suas melodias. 

   Parei. Procurei o bichinho. Fiquei lá, encantada, olhando pra cima, entre a padaria e minha casa. O mocinho estava no meio de galhos secos, estufando o peito alaranjando e soltando o verso. Momento de suspensão, um milagre. Não pensei nada disso que estou falando agora, só olhei e ouvi. Inteira. Una. Identificada. Me senti sabiá-laranjeira... Fiquei com vontade de assobiar, cantar, de harmonizar sons e criar uma sinfonia pássaro-humana... Só que, estranhamente, senti vergonha! E quando olhei pro lado tinha uma figura olhando estranho praquela que tira fotografias do céu, que fica rindo pras flores, que brinca com o cachorro preso na casa de ninguém, que sorri pra quem não conhece, que brinca com as crianças, que faz yoga no parquinho, que medita na piscina, que agradece todos os dias à vida, ao Sol, ao TODO, que sai por aí assobiando, que fala bom dia, boa tarde, obrigada, assim, só porque dá vontade.

     Talvez tenha ficado com vergonha de me sentir tão bem, e de saber que aquela figura se manteve distante, com seu olhar reprovador, mas não chegou perto por falta de sintonia. Talvez tenha ficado com vergonha por ter essa predisposição a colher belezas, e por saber que aquela pessoa vive sempre a se lamentar, e que, apesar de estarmos no mesmo lugar, ela sequer ouviu o sabiá-laranjeira. Ou talvez tenha ficado com vergonha por saber que insensíveis só estariam vendo mesmo uma louca olhando pra cima, parada no meio da calçada e rindo.

    Ao sentir vergonha me desconectei do passarinho. Ele também parou de cantar. Saí do estado de plenitude só porque alguém vive em maneira diferente. Que besteira me importar com o que podem pensar – e falar - de mim...  
     
    Em alguns minutos colhi preciosas informações da vida. Obrigada sabiá, contigo aprendi que posso espalhar meus cantos, expressar minha alma, simplesmente ser, independente dos rumores externos; obrigada figurinha, com você entendi que só depende de mim preservar momentos de encanto.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário