Parecia tudo bem, colorido, quando o emaranhado de fios de
lã cinza prendaram minhas pernas outra vez. Identifiquei o gatilho, mas já era
tarde demais. Uma vez desencadeado o processo é difícil, quase impossível
transformá-lo. Tentei enfrentar o medo, coloquei-me em movimento, usei inúmeros
argumentos racionais, éticos, mas o corpo se mostrou autônomo em sua
debilidade. Fui invadida por ânsias, dores de cabeça, a visão começou a turvar.
Dei meia volta, fui até onde era possível. Parei. Quando parei, chorei. Chorei
muito. Sentia-me cansada, exausta, triste por deixá-los vencer; inconformada por lhes presentear um dia, um
meio dia que seja, do valioso tempo da vida; sentia-me culpada por deixá-los
impedir encontros e compromissos; sentia
raiva em deixar vitoriosos os sabotadores de felicidade. Por fim, simplesmente aceitei.
Conversando com
minha irmã – finalmente aprendi a receber ajuda! – entendi melhor o que estava
acontecendo. Desculpei-me, comigo e com os outros, relaxei. Consegui me
perdoar. Da próxima vez que avistar os novelos cinza desenrolando seus fios pra
me segurar, espero ser outra, mais hábil, mais forte, melhor instrumentalizada.
Tomara que consiga ter em mãos uma paleta rica em nuances para transformá-los em
arco-íris com amorosas pinceladas.
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