quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A última vez que te vi



Lembro a última vez que te vi, sentado ao piano, 
corpo moreno em vestes creme compondo 
elegante degrade com as teclas. 

Contrastes suaves, contrastes fortes... 

Contidas pelas persianas doces espadas de luz iluminavam 
a cena, iluminavam sons profundos, 
iluminavam os prateados, 
realçavam suas luzes. 

Aproximei-me devagar para sorver até a última gota daquele instante. Sei que os instantes são únicos, 
tendencialmente vivo o belo com intensidade... 

Aquele momento foi único;  
é único na medida em que recupero, agora,  impressões vívidas guardadas nas memórias, trazidas à tona, reformuladas, redimensionadas, com novas roupas, mas que conservam a inteireza suspensa dos eventos mágicos, do encanto.  

Sem perder o foco caminhei lentamente ao seu encontro 
feito zoom, fruindo o leque de sensações que 
o quadro em movimento  despertava.  

Meu silêncio de gato não funciona com quem tem percepções despertas, então você se levantou pra me receber. 
Nada se quebrou, mas seu olhar trouxe suas palavras 
antes de serem expressas. 

Almas se falam. 

Almas sintonizadas.


             Ainda não compreendi com os parcos meios terrenos, não me importo com isso. Às vezes é assim, milenares amigos que se encontram, se reconhecem, que se sabem apesar de vidas, das atuais vidas, tão diferentes. É um saber de verdade, da natureza profunda, muito além dos caminhos traçados nesta fase, além das escolhas feitas nesta etapa. Encontros de amor incondicional. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário