Estão a carregar sacos, feito papais Noel.
Um é gordinho,
negro, usa óculos e diz que adoçante líquido mata enquanto aqueles que estão no
saquinho de papel, ah, esses fazem bem. E fica repetindo enquanto aponta o
dedo: "Esse mata, esse faz bem" E repete, repete, repete... A outra
é pequenina, magra, quase anã. Tem longos cabelos emaranhados
castanho-avermelhados que contornam um semblante sério. No topo da cabeça
ostenta uma horrível toca de lã pontuda que a protege do frio ou do sol à pino ou da chuva. Parece um
duende. Minha memória até insiste em vesti-la de verde.
O sem nome entra
na padaria sorridente, se faz notar sem palavras, nem precisa! Ele – ENORME - e seus sacos – ENORMES - ocupam espaço, um espaço de tons escuros como sua pele, suas roupas, seus óculos, seus sacos. A sem nome vagueia pelas
ruas com passo decidido, parece ter pressa, talvez pressa em levar seus sacos
pra sabe-se lá onde. Ela não para, sempre que a vejo está em movimento, só não
parece voar porque ao invés de asas carrega nas costas sacos de lixo pesados,
uma fada da sarjeta.
Os dois são
sujos e fedem e se afastam de todos e afastam todos de si.
Só tem a companhia dos sacos.
*Gravura: "Os mendigos", de Bruegel (1508)
Nenhum comentário:
Postar um comentário